O presidente Donald Trump está pronto para dar mais um passo ousado na sua estratégia comercial: expandir a lista de tarifas sobre importações que vão muito além do aço e do alumínio. O alvo agora inclui setores estratégicos como semicondutores, caminhões pesados, produtos farmacêuticos, minerais críticos e até aeronaves comerciais. A justificativa? A mesma de sempre: proteger a “segurança nacional” e incentivar empresas a trazer a produção de volta para os Estados Unidos.
Do aço aos aviões: uma escalada tarifária
Nas últimas semanas, as tarifas sobre aço e alumínio foram ampliadas para mais de 400 novas linhas de produtos, com alíquotas de até 50%. Isso já pressiona empresas americanas que dependem desses insumos, e especialistas dizem que a lista deve crescer ainda mais.
Além dos metais, estão no radar do governo tarifas específicas para setores inteiros. O objetivo é simples: tornar mais caro produzir fora dos EUA e, ao mesmo tempo, blindar o governo contra derrotas jurídicas, já que as chamadas tarifas recíprocas enfrentam contestação nos tribunais. Para isso, Trump aposta na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962, uma ferramenta legal que historicamente dá ao presidente ampla liberdade para impor medidas quando há alegações de ameaça à segurança nacional.
Aliados incomodados, empresas pressionadas
A União Europeia, Japão e Coreia do Sul conseguiram negociar limites em algumas dessas tarifas, mas a margem de manobra é curta. No fim das contas, Trump tem autoridade quase unilateral para definir as regras — e isso deixa investidores e governos estrangeiros em alerta.
Dentro dos EUA, a divisão também é evidente. Siderúrgicas e produtores de alumínio apoiam entusiasticamente as tarifas, que lhes dão vantagem competitiva contra importações baratas. Mas montadoras, fabricantes de máquinas e empresas de tecnologia reclamam de custos bilionários. A Caterpillar, por exemplo, estima que só este ano pode gastar US$ 1,8 bilhão a mais por causa das tarifas. A Ford fala em US$ 2 bilhões adicionais.
Um jogo de compensações
Para reduzir a resistência, a Casa Branca estuda mecanismos de alívio. Entre eles, ampliar descontos tarifários para montadoras como Ford, GM e Stellantis, aplicar cotas para certas peças importadas e até oferecer isenções temporárias a gigantes da tecnologia. “Trump prometeu usar tarifas para tornar a América forte de novo”, disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai.
A ideia é manter a pressão sobre concorrentes estrangeiros, mas sem sufocar totalmente empresas americanas que ainda dependem de insumos importados.
O dilema da indústria americana
Enquanto produtores de aço e alumínio celebram, outros setores sentem o peso. Empresas de robótica alertam que as tarifas encarecem a automação — peça-chave para trazer fábricas de volta ao país. Fabricantes de transformadores dizem que os EUA não produzem metal suficiente para atender à demanda, o que pode elevar custos de energia em até 30%.
No fundo, o que Trump busca é internalizar a produção. Mas a equação não é simples: ao tentar fortalecer a indústria americana, ele também corre o risco de encarecer insumos, frear investimentos e atrasar o avanço tecnológico.