Com a Selic no limite, inflação ancorada e investidores ganhando apetite ao risco, ações de empresas menores assumem o protagonismo no primeiro semestre. Mas será que essa corrida tem fôlego?

Por anos, o Índice Small Cap (SMLL) andava no escuro, encostado em patamares que mais lembravam um cenário pós-crise do que um bull market em construção. Mas, nos primeiros seis meses de 2025, esse jogo começou a virar. Enquanto o Ibovespa entregou uma alta de 17,4% até o fim de junho, o SMLL subiu 26,5% – uma vantagem de quase 10 pontos percentuais.

Sim, as small caps ganharam dos gigantes. Mas ainda estão cerca de 31% abaixo da máxima histórica de 2021. Ou seja: há muito espaço para recuperação. A pergunta agora não é se elas têm fôlego – mas se o investidor tem estômago para a montanha-russa que vem pela frente.

A força da “leveza”
Por definição, as small caps são empresas mais leves. Na bolsa, isso significa que sobem (ou caem) mais rápido com menos capital envolvido. É um risco – e uma oportunidade. Neste início de semestre, com os juros próximos do pico, a inflação mais sob controle e os bancos centrais, aqui e nos EUA, sinalizando que o ciclo de aperto monetário pode estar no fim, o cenário volta a favorecer ativos sensíveis à taxa de juros. E as small caps estão no topo dessa lista.

Baratas e esquecidas
Mesmo após a arrancada de 2025, essas ações ainda negociam com desconto. O índice preço/lucro do SMLL gira em torno de 10 vezes, cerca de 27% abaixo da média histórica (14x), segundo a Genial Investimentos. Traduzindo: o mercado ainda não precificou toda a melhora – e isso atrai gestores em busca de assimetrias.

Mais risco, mais retorno?
A Empiricus Asset diz que, para cada ponto percentual de queda na Selic, as small caps sobem, em média, 11 p.p. – quase o dobro da resposta do Ibovespa (6,5 p.p.). Mas isso exige timing, paciência e apetite ao risco.

“Estamos vendo o Ibovespa renovar máximas com Selic ainda alta. Isso mostra que o racional clássico está mudando. E, quando o mercado começa a se mover pelo apetite de risco, as small caps podem ser as próximas estrelas”, diz João Piccioni, diretor-executivo da Empiricus.

Para onde olhar?
Enquanto muitos investidores olham para consumo, varejo e construção civil, o gestor Werner Roger, da Trígono Capital, aposta fora do radar: Tupy, Mahle Metal Leve, São Martinho e Jalles Machado são nomes que, segundo ele, ainda têm preços injustamente baixos, bons balanços e potencial para atrair os holofotes.