Os contratos futuros do café arábica alcançaram uma alta histórica nesta terça-feira (10), atingindo US$ 3,4540 por libra-peso, um aumento de 4,6% em um único dia. O valor superou o recorde anterior estabelecido durante a devastadora geada dos anos 1970, destacando o impacto das preocupações com uma crise global de oferta.

A Volcafe Ltd., uma das principais traders do mercado, revisou para baixo sua estimativa de produção no Brasil, o maior produtor mundial. A revisão ocorreu após análises em campo indicarem os graves efeitos de uma longa seca. De acordo com a empresa, a produção de arábica no Brasil, variedade preferida para cafés especiais, deve ser de apenas 34,4 milhões de sacas, representando uma redução de 11 milhões em relação à estimativa divulgada em setembro. Essa queda aprofunda o déficit global de oferta, que deve alcançar 8,5 milhões de sacas na temporada 2025-26, marcando o quinto ano consecutivo de déficit.

Alta expressiva no ano

A valorização acumulada do café arábica ultrapassa 80% em 2024, impulsionada por dificuldades nas safras de grandes produtores. Essa alta ameaça pressionar ainda mais os custos para consumidores, cafeterias e torrefadoras, que já começaram a repassar os aumentos. A Nestlé, por exemplo, anunciou recentemente a elevação de preços e a redução do tamanho de suas embalagens como medidas para compensar os custos.

Além do Brasil, o Vietnã, maior produtor do grão robusta, também enfrenta problemas climáticos, com seca no período de crescimento e chuvas excessivas na colheita, intensificando as preocupações sobre a oferta global.

Produção ameaçada

Analistas do setor destacam que os números de produção no Brasil continuam alarmantes. Steve Pollard, do Marex Group, afirmou que as recentes inspeções a campo indicam que a safra de arábica pode cair para cerca de 30 milhões de sacas, o que agravaria ainda mais o déficit global.

“O cenário fundamental do mercado de café está extremamente forte, o que deve manter os preços em níveis elevados,” comentou Viktoria Kuszak, pesquisadora da Sucden Financial.

Efeitos na cadeia produtiva

O aumento nos preços também traz desafios para outros elos da cadeia de produção. Exportadores e produtores enfrentam custos mais altos para cumprir as exigências de margem de garantia nos mercados futuros, enquanto traders que venderam contratos precisam recomprá-los, o que alimenta ainda mais as altas em um ciclo difícil de ser quebrado.

A volatilidade também está em ascensão, com o índice de força relativa de 14 dias do arábica ultrapassando 70, um sinal de que o mercado pode estar sobrecomprado. A volatilidade de 60 dias alcançou o maior patamar desde julho.

Outras commodities em destaque

O café não é a única commodity a enfrentar aumentos expressivos. O cacau também atingiu recordes em abril devido a problemas climáticos na África Ocidental, e o suco de laranja segue próximo ao maior preço já registrado, impulsionado por secas e doenças nas lavouras do Brasil e por furacões que afetaram a produção na Flórida, nos Estados Unidos.

Embora os preços globais de alimentos estejam abaixo dos níveis recordes registrados em 2022, o café e outras commodities “soft” continuam entre os materiais mais valorizados do ano.