Depois de anos de compras recordes, os bancos centrais parecem estar se aproximando de seu limite com o ouro.
Um novo relatório do Banco Central Europeu (BCE), divulgado nesta quarta-feira (5), mostra que o ouro se tornou o segundo maior ativo de reserva do mundo em 2024, ultrapassando o euro em valor — atrás apenas do dólar americano. A mudança reflete o salto no preço do metal e o aumento da demanda por proteção contra riscos geopolíticos e cambiais.
Em média, o ouro passou a representar 19% das reservas globais em 2024, enquanto o euro recuou para 16%. O dólar ainda lidera com folga, respondendo por 47% do total, segundo cálculos da CNBC com base nos dados do BCE.
A era do ouro, versão 2020+
Após a invasão da Ucrânia em 2022, a escalada da inflação global e o temor de sanções levaram diversos países emergentes — como China, Índia e Turquia — a reforçarem suas reservas com ativos não correlacionados. O ouro, por sua natureza física, liquidez e independência política, ganhou protagonismo.
Os bancos centrais foram responsáveis por mais de 20% da demanda global por ouro no último ano, o dobro da média observada na década passada.
Mas os primeiros sinais de desaceleração já surgiram.
Rali pode perder fôlego
Segundo o World Gold Council, as compras de ouro por bancos centrais caíram 33% no primeiro trimestre de 2025 em relação aos três meses anteriores. A China, principal compradora no ciclo recente, também reduziu o ritmo.
A leitura entre analistas é que a tendência de acumulação de ouro deve continuar, mas em um ritmo mais lento.
“Os bancos centrais foram peça-chave no rali do ouro e provavelmente seguirão comprando, ainda que em menor escala”, avalia Hamad Hussain, da Capital Economics.
Além da proteção contra riscos fiscais, inflacionários e geopolíticos, o ouro voltou ao radar como alternativa diante das dúvidas crescentes sobre o papel do dólar como porto seguro — especialmente num cenário de política externa mais isolacionista por parte dos EUA.
Diversificação como estratégia
O chefe de investimentos do UBS Global Wealth Management, Mark Haefele, recomendou recentemente que investidores aumentem a exposição a ouro e fundos alternativos como forma de proteção frente à esperada volatilidade nos mercados acionários.
Ainda assim, 70% da demanda global por ouro vem de joalheria e investidores — ou seja, o papel dos bancos centrais, embora relevante, não é dominante.
Segundo o BCE, o comportamento futuro dos preços dependerá da “elasticidade da oferta” de ouro. Historicamente, aumentos na demanda oficial têm sido acompanhados por elevação no fornecimento global, incluindo estoques acima do solo.