A economia alemã, outrora considerada o motor robusto da Europa, enfrenta atualmente uma série de desafios que colocam em xeque seu modelo econômico tradicional. A dependência excessiva de exportações, especialmente para mercados como China e Estados Unidos, aliada a custos energéticos elevados e uma crescente concorrência internacional, tem pressionado diversos setores industriais do país.
Um exemplo emblemático dessa crise é a situação da Audi, sediada em Ingolstadt. A empresa, que anteriormente contribuía com mais de cem milhões de euros anuais em impostos municipais, viu esse fluxo praticamente desaparecer no último ano. No terceiro trimestre de 2024, a Audi reportou uma queda de 91% no lucro operacional, resultando em milhares de demissões em suas unidades na Alemanha. Esse declínio está fortemente ligado à redução de 25% nas vendas na China durante os primeiros nove meses de 2024, refletindo a desaceleração econômica chinesa e a intensa competição com fabricantes locais.
A Volkswagen, controladora da Audi, também enfrenta dificuldades significativas. Em outubro de 2024, a empresa anunciou a consideração do fechamento de fábricas em solo alemão, algo inédito em seus 87 anos de história. Essa medida extrema reflete a urgência em reduzir custos diante da perda de competitividade e da pressão por inovação no mercado automotivo global.
A crise não se limita ao setor automotivo. A produção industrial alemã como um todo diminuiu 15% desde 2018, com uma redução de 3% no número total de empregados no setor. Indústrias-chave, como metalurgia e energia elétrica, enfrentam custos elevados que podem resultar na demissão de até 300 mil trabalhadores nos próximos cinco anos. Além disso, mais de 300 bilhões de euros em investimentos deixaram a Alemanha desde 2021, evidenciando uma tendência preocupante de desindustrialização.
A dependência da Alemanha de mercados externos, especialmente da China, tornou-se uma vulnerabilidade. Desde meados da década de 1990, a participação das exportações no PIB alemão dobrou, atingindo 43% — quatro vezes a proporção observada nos Estados Unidos e o dobro da registrada na China. Essa estratégia, que antes impulsionava o crescimento, agora expõe a economia alemã a riscos significativos diante de mudanças geopolíticas e econômicas globais.
Em resposta a esses desafios, o governo alemão tem buscado alternativas para revitalizar a economia. Em novembro de 2023, a coalizão governista apresentou um orçamento suplementar que suspendeu temporariamente o limite autoimposto para o endividamento, após uma decisão do tribunal constitucional que inviabilizou planos de gastos anteriores. Essa medida visa liberar 45 bilhões de euros em empréstimos extras para investimentos estratégicos.
Entretanto, especialistas apontam que tais iniciativas podem não ser suficientes. Há uma crescente demanda por reformas estruturais que incentivem o consumo interno, reduzam a burocracia e promovam a inovação tecnológica. A necessidade de diversificar os parceiros comerciais e diminuir a dependência de mercados específicos também é considerada crucial para garantir a resiliência econômica a longo prazo.