O mercado global de petróleo se aproxima de um cenário de excesso de oferta, pressionado pela recomposição de estoques acumulados durante a pandemia e pela expansão da produção em países de dentro e de fora da OPEP+, como Estados Unidos, Brasil e Guiana.
Refinarias asiáticas mudam estratégia
As refinarias da Ásia, responsáveis por cerca de 40% do consumo mundial, vêm buscando diversificar suas compras, importando mais barris de regiões como Brasil, Nigéria e EUA — um movimento impulsionado pelo reposicionamento forçado dos fluxos russos. Ainda assim, essa mudança não tem sido suficiente para sustentar o Brent, que perdeu prêmio em relação ao Dubai, referência do Oriente Médio, atingindo o menor nível desde abril.
O motivo, segundo analistas, está na expectativa de uma inundação de barris nos próximos meses. “Estamos nos aproximando de um excesso de oferta. Esse quadro já era projetado há algum tempo e deve se materializar no quarto trimestre”, afirma Gary Ross, gestor da Black Gold Investors.
Oferta cresce acima da demanda
Projeções da OilX, ligada à consultoria Energy Aspects, indicam crescimento médio da produção global em 1,4 milhão de barris por dia em 2025, ritmo mais que duas vezes superior ao avanço estimado para a demanda pela Agência Internacional de Energia (AIE).
Para Aldo Spanjer, chefe de estratégia de energia do BNP Paribas, os próximos trimestres tendem a ser desafiadores: “O quarto trimestre deste ano e o início de 2026 devem ser marcados por fraqueza”.
Pressão política e volatilidade
A política externa de Donald Trump tem contribuído para esse cenário, redirecionando fluxos comerciais e aumentando a volatilidade. Países como Índia, Paquistão e Japão vêm absorvendo petróleo americano por pressão tarifária, abrindo novos mercados para o WTI.
Enquanto isso, os estoques em Cushing (EUA) aumentam há sete semanas consecutivas, e spreads temporais do WTI caem para os níveis mais baixos desde maio.
Perspectiva de demanda fraca
A demanda global por petróleo cresce em ritmo bem menor que nos anos anteriores. O avanço da transição energética na China, o fechamento de refinarias na Europa e a manutenção de plantas nos EUA devem pesar sobre a atividade das refinarias.
A AIE projeta que a demanda em 2025 e 2026 deve crescer a menos da metade do ritmo observado em 2023. Na Europa, por exemplo, duas das seis refinarias do Reino Unido fecharam neste ano, reduzindo ainda mais a capacidade de processamento.
Bancos veem queda nos preços
Os bancos seguem cautelosos. O Goldman Sachs, por exemplo, projeta o Brent na casa dos US$ 60 até o fim do ano. Apesar disso, analistas destacam que o crescimento da oferta tende a desacelerar a partir do segundo semestre de 2026, abrindo espaço para uma recuperação gradual do mercado.