O mercado de ações brasileiro ganhou milhares de novos CPFs nos últimos anos, mas os papéis mais populares entre pessoas físicas não têm entregado o mesmo desempenho que índices de referência como o Ibovespa ou até a renda fixa.
Um levantamento da B3 mostra que, entre as 20 companhias com maior número de acionistas individuais, 11 ampliaram suas bases desde 2023, enquanto as demais registraram apenas quedas discretas. Banco do Brasil, Petrobras e Vale são exemplos de gigantes que continuam a atrair investidores mesmo em um cenário de juros elevados e protagonismo da renda fixa.
No entanto, se esse grupo de 20 empresas fosse tratado como uma carteira, teria acumulado ganhos de apenas 3,5% em 2025 até 21 de agosto, contra 12% do Ibovespa e 8,6% do CDI. Em cinco anos, o retorno seria de 20,6%, bem abaixo dos 32,7% do índice da bolsa e dos 60,5% do CDI.
Dividendos e tradição sustentam popularidade
O apelo dessas empresas para o investidor brasileiro é claro: bons dividendos, setores tradicionais e uma percepção de solidez em tempos de incerteza. Bancos, seguradoras e companhias de energia dominam o ranking, refletindo essa preferência.
O Banco do Brasil lidera a lista, com um salto de mais de 70% em sua base de acionistas desde o fim de 2023, chegando a 1,28 milhão de CPFs. A Petrobras aparece em segundo, com 1,11 milhão de investidores, seguida pela Itaúsa, que mantém quase 966 mil.
Mas essa segurança aparente não garante retorno. A WEG, por exemplo, amarga queda de 28,5% no período, enquanto a Copel avançou 33% — um lembrete de que diversificação continua sendo chave.
Varejo em retração
No varejo, o encanto da pandemia deu lugar à ressaca. Casas Bahia e Magalu, que chegaram a figurar entre as favoritas de pessoas físicas, perderam 30% e 44% de seus acionistas, respectivamente. O contraste é duro: Magalu, que já negociou acima de R$ 270 em 2020, hoje vale cerca de R$ 6,75 por ação.
O retrato atual
Para figurar no top 10 da B3 em número de investidores pessoas físicas, é preciso ter mais de 400 mil CPFs na base. Para entrar no top 20, o corte é de 221 mil. O setor financeiro responde por um terço da lista, enquanto energia, seguradoras e infraestrutura completam o pelotão.
Mais acionistas não significam mais retorno — e o levantamento reforça a necessidade de olhar além da popularidade, equilibrando carteiras entre setores e classes de ativos.