Pela primeira vez, a Hermès superou a LVMH e assumiu o topo do ranking global das marcas de luxo mais valiosas. Conhecida mundialmente por peças como a icônica bolsa Birkin, a maison francesa atingiu um valor de mercado de € 249 bilhões (cerca de R$ 1,65 trilhão), segundo dados da Bolsa de Paris, desbancando o conglomerado que controla marcas como Louis Vuitton, Christian Dior e Tiffany & Co.

A conquista não é apenas simbólica: além de assumir a liderança no setor de luxo, a Hermès também se tornou a empresa de maior valor de mercado da Bolsa francesa e atualmente ocupa a terceira posição entre as companhias mais valiosas da Europa — atrás apenas da SAP (tecnologia) e da farmacêutica Novo Nordisk.

Um movimento influenciado pelos mercados

A virada no ranking acontece em um momento de instabilidade no setor. A LVMH teve uma queda de 7,8% nas ações, reflexo de um primeiro trimestre fraco, impactado pela retração da demanda nos Estados Unidos e na China — dois dos principais mercados para produtos de alto padrão. O cenário também é agravado pelas tensões comerciais envolvendo tarifas entre grandes potências, o que pressiona ainda mais as perspectivas de crescimento do setor.

Em contraste, a Hermès tem sido percebida pelos investidores como uma marca mais resiliente em tempos de incerteza econômica. Segundo analistas, sua atuação mais focada em um público ultrarrico e a manutenção de um modelo de exclusividade restrita — que inclui listas de espera para produtos como Birkin e Kelly — ajudam a proteger a marca de oscilações mais bruscas na demanda.

Modelo de escassez como diferencial competitivo

Fundada em 1837 como fabricante de selarias, a Hermès é hoje um dos maiores símbolos de luxo do mundo, com forte presença entre consumidores de altíssimo poder aquisitivo. Sua estratégia de controle rigoroso de oferta cria um cenário de alta demanda constante por seus produtos, que raramente são encontrados disponíveis de imediato.

Esse modelo se reflete nos números: mesmo com uma receita bem menor que a da LVMH — € 15,2 bilhões em vendas e € 6,2 bilhões de lucro operacional em 2024, contra € 84,7 bilhões e € 19,6 bilhões do grupo rival — a valorização da Hermès no mercado acionário reflete confiança na consistência e exclusividade da marca.

Rivalidade com história

O embate entre Hermès e LVMH remonta a uma década atrás. Em 2010, o bilionário Bernard Arnault, CEO da LVMH, tentou adquirir uma fatia significativa da Hermès de forma silenciosa, gerando um conflito entre os grupos. A família Hermès reagiu com firmeza, reforçando o controle familiar da companhia e obrigando Arnault a desfazer sua posição alguns anos depois.

Hoje, a disputa se dá por outros meios: valorização de marca, desempenho financeiro e percepção de mercado. E, por ora, a vantagem está com a Hermès — cuja família fundadora lidera atualmente a lista das mais ricas da Europa, com uma fortuna estimada em US$ 171 bilhões.

Com resultados trimestrais a serem divulgados em breve, o setor observa com atenção se a Hermès conseguirá sustentar sua liderança em meio às incertezas globais — ou se a LVMH voltará ao topo nas próximas rodadas.