Movimento marca novo capítulo na moda italiana e posiciona Prada como concorrente direto de gigantes como LVMH e Kering
Em um passo estratégico que promete redefinir o equilíbrio de forças no cenário global da moda de luxo, o Grupo Prada anunciou a aquisição da icônica grife Versace por 1,25 bilhão de euros. O acordo, firmado após semanas de negociações intensas, inclui ainda a absorção de mais de 1 bilhão de euros em novas dívidas, sinalizando a aposta robusta da Prada na revitalização de uma marca em meio a um momento turbulento.
O negócio acontece em um contexto de transformação para a Versace. Em março de 2025, Donatella Versace — irmã do fundador Gianni Versace e símbolo da estética exuberante da marca — deixou a direção criativa após quase três décadas à frente da casa. Sua saída marca o fim de uma era e abre espaço para uma nova fase de reestruturação.
A aquisição também reposiciona o Grupo Prada — que já controla grifes como Miu Miu, Church’s, Car Shoe e Marchesi 1824 — como um dos principais players do setor, buscando rivalizar com gigantes consolidados como o conglomerado francês LVMH e o grupo Kering, dono da Gucci. Apesar de a Prada ainda ter uma capitalização de mercado significativamente inferior à da LVMH (cerca de US$ 15 bilhões contra US$ 300 bilhões), a compra da Versace reforça o protagonismo da Itália no mercado de luxo global.
Uma grife em transição
Fundada em 1978 por Gianni Versace, a marca se tornou sinônimo de ousadia, sensualidade e ostentação. Sob o comando de Donatella, a Versace consolidou sua identidade visual marcada por estampas vibrantes, dourados reluzentes e referências à mitologia greco-romana — estilo que, nos últimos anos, perdeu tração diante da ascensão do chamado “quiet luxury”, a estética minimalista que hoje dita o gosto dos consumidores de alta renda.
Essa mudança de comportamento impactou o desempenho da grife, que tem enfrentado dificuldades para manter seu posicionamento competitivo. Em 2018, a Versace havia sido adquirida pelo grupo americano Capri Holdings — também controlador da Michael Kors e da Jimmy Choo — por US$ 2,15 bilhões. Agora, a venda para a Prada ocorre por valor inferior, cerca de US$ 1,4 bilhão, refletindo o momento desafiador da marca.
Força italiana no luxo global
Embora cerca de 50% a 55% da produção mundial de bens de luxo pessoais tenha origem na Itália, o país carecia de um grupo com musculatura para competir em escala global. Com a compra da Versace, a Prada se consolida como o maior grupo italiano de moda de luxo em receita e dá um passo audacioso na direção de maior protagonismo.
O movimento também reforça uma tendência de consolidação no setor, em que marcas buscam se unir ou serem adquiridas para sobreviver às novas exigências do mercado — que incluem inovação constante, presença digital, sustentabilidade e adaptação a um consumidor cada vez mais globalizado e exigente.
A nova fase da Versace, agora sob o guarda-chuva da Prada, promete ser observada de perto por analistas e apaixonados por moda. Resta saber se a união entre duas das mais emblemáticas casas italianas será capaz de reacender o brilho de uma marca que sempre viveu à sombra do exagero — mas que agora pode se reinventar com sobriedade estratégica.