Depois de uma disparada de 17% no ano em reais e 33% em dólares, a pergunta que não quer calar é: a bolsa brasileira ainda oferece espaço para valorização? A resposta curta é sim — ao menos se olharmos para os múltiplos.

O P/L (preço sobre lucro) do Ibovespa está em 9,3 vezes. Em 2021, esse número era de apenas 5,7x; em 2024, 8,1x. Ou seja, a bolsa ficou mais “cara” do que há alguns anos, mas continua abaixo da sua média histórica de 15 anos, que gira em torno de 11x. Traduzindo: mesmo com a valorização expressiva, o índice segue negociado a um desconto em relação ao próprio histórico e, mais ainda, frente a seus pares globais.

O P/L mostra quantas vezes o lucro anual de uma empresa está embutido no seu valor de mercado. A Petrobras, por exemplo, vale R$ 420 bilhões e lucrou R$ 77 bilhões nos últimos 12 meses. Isso resulta em um múltiplo de 5,4x. O mercado paga hoje o equivalente a 5,4 anos de lucro da estatal. Comparando: a Exxon negocia a 16,2x e a Chevron a 20,7x. Ou seja, a Petro está muito mais barata que suas rivais internacionais.

O oposto acontece com empresas como a WEG. Seu múltiplo é de 24x, considerado alto no Brasil — mas em linha com concorrentes globais, como Siemens (24x) e Schneider (26x). Com o Ibovespa, a lógica é a mesma: ele consolida o P/L das 80 empresas listadas no índice. Hoje, esse número é 9,3x.

Entre emergentes, o MSCI Emerging Markets Index negocia a 15,8x. Já o S&P 500 nos EUA está em 30x — nível comparável ao da bolha da internet. Casos como o da Tesla, com múltiplo de 200x, chegam a ser quase anedóticos. Ou seja: se os EUA parecem esticados demais, a bolsa brasileira ainda aparece como uma alternativa mais “em conta”.

A valorização do Ibovespa em 2025 não veio apenas do crescimento de lucros. O que puxou a alta foi o apetite dos investidores internacionais, que voltaram com força para a B3. O saldo de entradas de estrangeiros já supera R$ 20 bilhões no ano, revertendo o fluxo negativo de 2024 (-R$ 24 bilhões). Enquanto isso, investidores locais, como fundos brasileiros, seguem vendendo: o saldo doméstico está negativo em mais de R$ 31 bilhões.

Esse movimento também fortaleceu o real, que saiu de R$ 6,18 por dólar no fim de 2024 para a faixa de R$ 5,40. O resultado? Para quem investiu em reais e converteu de volta para dólares, o retorno foi muito maior: 33% até agora em 2025, contra apenas 9,8% do S&P 500.

O Brasil não está sozinho nessa maré favorável. Outras bolsas latino-americanas também brilharam em dólar neste ano: Colômbia (+47%), Brasil (+33%), Chile (+32%) e México (+31%). A única exceção foi a Argentina, que ficou no negativo.

O múltiplo do Ibovespa subiu porque os preços avançaram mais rápido do que os lucros. Isso mostra que o mercado aposta em resultados melhores para frente — e que os papéis brasileiros ainda estavam descontados. Mas o pano de fundo é global: enquanto a bolsa americana permanece cara, investidores estrangeiros buscam alternativas mais baratas em países emergentes. O Brasil, ao menos por enquanto, está na linha de frente desse movimento.