O investidor que abriu 2025 acreditando na força quase mítica das gigantes americanas está enfrentando um choque de realidade.
Enquanto o Ibovespa avança cerca de 30% no ano, a maior parte dos BDRs das empresas mais valiosas dos EUA mergulha no terreno negativo — e não é pouco.

BDRs, para contextualizar, são recibos negociados na B3 que refletem ações estrangeiras, mas precificados em reais. Ou seja, eles sofrem influência direta não apenas do desempenho das empresas em Nova York, mas também do humor do câmbio.

E é justamente aí que começa o problema.

O dólar despencou — e arrastou boa parte dos BDRs junto

A moeda americana caiu mais de 15% apenas em 2025. Para quem compra empresas americanas via BDR, isso é devastador: mesmo que a ação suba lá fora, o efeito pode simplesmente evaporar no caminho até o investidor brasileiro.

É o que acontece com Alphabet (Google). A empresa brilha na Nasdaq, acumulando quase 50% de valorização no ano. Em reais, porém, esse desempenho se “resume” a cerca de 26%.

O caso da Nvidia é ainda mais emblemático: a rainha da inteligência artificial rompeu a marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado, depois US$ 5 trilhões — e aí devolveu cerca de US$ 600 bilhões em poucas semanas, alimentando narrativas de “bolha da IA”.
Ainda assim, sobe mais de 35% em dólares. Em reais? Algo perto de 14%.

E depois disso, vem o deserto.

No território dos BDRs, é vermelho para todo lado

Quase todas as Magníficas estão no negativo na B3:
– Microsoft: -0,8%
– Apple: -8%
– Meta: -13,8%
– Amazon: -14,1%
– Tesla: -17,2%

Aqui, não dá para culpar só o câmbio.
O problema também está lá fora.

Com exceção da Microsoft — que ainda entrega uma alta saudável em dólares — o restante do grupo mostra desempenho fraco na Nasdaq. Apple não empolga, Amazon caminha de lado, Meta oscila, Tesla perdeu tração. Some isso à queda do dólar e o estrago está feito.

O mercado americano está caro — e isso finalmente pesou

Há anos analistas falam sobre valuations esticados nos EUA. Em 2025, isso virou consenso.

O S&P 500 negocia a um P/L (preço sobre lucro) de 27,6, muito acima da média de 10 anos (22,8) e distante da série histórica desde 1950 (19).
Em tradução livre: os investidores estão pagando caro demais pelo lucro das empresas.

No Brasil, o retrato é quase o oposto:
P/L de 8,6, bem abaixo da média de longo prazo de 10,5.

E quando o mundo começa a enxergar valor nos emergentes, o fluxo acompanha. Esse movimento fortalece bolsas locais — e enfraquece o dólar.
Um círculo perfeito para o Ibovespa.
Um inferno matemático para os BDRs.

A liquidez dos BDRs não ajuda

Mesmo sendo populares nas redes sociais, os BDRs das Mag 7 ainda têm pouco volume na B3: entre 100 mil e 200 mil negócios por dia — nível semelhante ao de empresas brasileiras que nem aparecem entre as 100 mais negociadas.

Isso significa mais volatilidade, menos profundidade de mercado e sensibilidade maior ao câmbio.

O resultado?
As Magníficas deixaram de parecer tão magníficas assim — pelo menos para o investidor brasileiro.