A Berkshire Hathaway (BRK.A, BRK.B) encerrou o terceiro trimestre de 2025 com lucro líquido de US$ 30,8 bilhões, superando os US$ 26,3 bilhões de um ano antes. O avanço foi impulsionado pelo desempenho sólido das operações e pela valorização da carteira de ações — reflexo da resiliência de um conglomerado que, mesmo prestes a mudar de comando, mantém sua engrenagem funcionando com precisão.
O lucro operacional — métrica preferida de Warren Buffett por eliminar distorções de mercado — cresceu 34% no período. Já o resultado por ação recuou pela ausência de recompras, algo que não ocorre há mais de um ano.
Buffett continua como presidente do conselho, mas a transição está em curso. Greg Abel assume o comando executivo até o fim do ano, enquanto Ajit Jain segue liderando a divisão de seguros — o coração da Berkshire.
Os motores do lucro
O negócio de seguros permanece a maior fonte de resultado, seguido por manufatura, serviços e varejo.
A GEICO voltou ao protagonismo, com um combined ratio de 84,3%, o que significa que cada dólar recebido em prêmios custou apenas 84 centavos em sinistros e despesas. Em outras palavras: lucro técnico em alta e float crescente — agora em US$ 176 bilhões, cinco a mais que no fim de 2024.
A ferrovia BNSF teve alta de 5% no lucro operacional, impulsionada por produtividade e aumento de volume, confirmando a recuperação de um negócio que Buffett admitiu não estar “rendendo o que deveria”.
O contraponto veio da Berkshire Hathaway Energy (BHE), com queda de 16,3% nos lucros após novas provisões para perdas com incêndios. Mesmo sem esse efeito, o desempenho ficou 10% abaixo do ano anterior, pressionado por juros e margens menores.
Indústria, varejo e serviços
O segmento de manufatura e serviços cresceu 7,9% no lucro antes de impostos.
A Marmon — conglomerado de mais de 100 empresas — subiu 19,7%, impulsionada por transporte e refrigeração.
A Clayton Homes também teve alta, beneficiada por sua divisão financeira. Ainda assim, a Berkshire alertou que parte das empresas ligadas à construção enfrenta demanda enfraquecida e pressão sobre preços.
Nos serviços, o avanço foi de 19,2%, liderado pela divisão de aviação e pela distribuidora TTI.
Já o varejo recuou 1,9%, com queda acentuada nas margens da Pilot Travel Centers — que registrou prejuízo operacional — e retração de 22,7% no restante da divisão, afetada por consumo mais fraco.
Portfólio e estratégia
O portfólio de investimentos continua ancorado em 51% de ações listadas e 45% de caixa.
A Berkshire foi vendedora líquida de US$ 6,1 bilhões em ações — o 12º trimestre consecutivo de desinvestimento — e deve ter reduzido novamente a posição em Apple.
Hoje, o caixa total soma US$ 381,7 bilhões, um recorde equivalente a 31% do valor da companhia.
A ausência de recompras há seis trimestres reflete a avaliação de Buffett de que as ações seguem acima do valor intrínseco. A política é clara: só recomprar quando o preço for inferior ao que ele considera justo — e sempre mantendo pelo menos US$ 30 bilhões em caixa.
A sucessão e o legado
Os papéis da Berkshire subiram 3,5% no trimestre, abaixo dos 8,1% do S&P 500.
Mas Buffett nunca jogou o jogo do trimestre. Seu foco — e agora o de Greg Abel — é o compasso de décadas.
Com lucro operacional 17,9% maior, o conglomerado mostra vitalidade em todos os pilares que o construíram: seguros rentáveis, gestão de capital prudente e paciência para agir quando os outros correm.
A era pós-Buffett começa, mas o espírito permanece: um império de investimentos que cresce não pelo espetáculo dos números, mas pela arte de resistir ao curto prazo.