Por décadas, o dólar foi sinônimo de segurança. Mas o mapa das reservas globais começa a mudar: os bancos centrais reduzem a exposição à moeda americana e ampliam suas apostas em ouro. E, para surpresa de muitos, um novo candidato surge no radar: o Bitcoin.

Segundo um estudo do Deutsche Bank, a criptomoeda pode, até 2030, se qualificar como ativo de reserva — não para substituir o dólar, mas para dividir espaço com o metal precioso como alternativa de diversificação.

O fascínio da escassez

O que une ouro e Bitcoin é a raridade. O primeiro, limitado pela natureza; o segundo, por código: apenas 21 milhões de unidades poderão existir. Essa característica cria um apelo desinflacionário em contraste com moedas tradicionais, que perdem valor à medida que governos emitem mais dinheiro.

É esse traço que sustenta a tese de que bancos centrais, cada vez mais atentos a riscos geopolíticos e monetários, podem abrir espaço para criptoativos em seus balanços.

De nicho para o mainstream

A hipótese não parece mais tão distante. Hoje, quase 200 companhias já carregam Bitcoin em seus cofres, de startups a multinacionais. No Brasil, nomes como Méliuz e OranjeBTC aparecem na lista. Ao mesmo tempo, cresce o interesse institucional: fundos globais adicionam exposição, e governos já discutem oficialmente como lidar com reservas em cripto.

Nos EUA, Donald Trump chegou a sugerir a criação de estoques em Bitcoin a partir de moedas apreendidas — movimento que, se sair do papel, poderia legitimar de vez a presença do ativo no sistema financeiro oficial.

O que ainda falta

Apesar do entusiasmo, o Bitcoin ainda enfrenta um obstáculo central: a volatilidade. Um ativo que pode variar dois dígitos em questão de dias precisa amadurecer para ser aceito como reserva estável. O Deutsche Bank lembra, porém, que o próprio ouro levou décadas até conquistar status de porto seguro.

Dólar continua sendo o “rei”

Nada disso significa o fim da hegemonia do dólar. A moeda americana segue sendo o pilar do comércio internacional e da política monetária global. Historicamente, os EUA não hesitaram em agir para proteger esse papel — como quando reduziram a dependência do ouro nas décadas de 1930 e 1970.