As recentes ondas de calor que atingiram a Europa podem transformar um cenário de excesso global de oferta em uma oportunidade para produtores brasileiros. O milho, que vinha registrando preços mais baixos diante das colheitas recordes no Brasil e nos Estados Unidos, pode encontrar maior demanda externa devido às perdas nas lavouras europeias.

Na semana encerrada em 16 de agosto, as temperaturas ficaram até 9 °C acima da média no norte da Espanha e no sul da França, prejudicando a qualidade e a produtividade do milho. Na França, apenas 62% das lavouras foram classificadas como boas ou excelentes, segundo o FranceAgriMer, percentual bem abaixo do registrado em 2024. Na Bulgária, o clima seco ameaça reduzir a safra de milho e girassol para o menor nível em décadas.

Esse déficit regional abre espaço para que importadores recorram a mercados com maior competitividade de preços. “O milho do Brasil e dos EUA está com preços muito atrativos, o que estimula a demanda internacional. A União Europeia deve ampliar as compras diante da pressão sobre sua produção interna”, afirmou Matt Darragh, analista da Kpler.

O Conselho Internacional de Grãos projeta que a União Europeia importe 21 milhões de toneladas de milho na safra 2025/26. Se confirmado, o bloco permanecerá como o segundo maior comprador global pelo segundo ano seguido, atrás apenas da China, que neste momento enfrenta demanda enfraquecida.

Embora o início do outono traga previsão de clima mais úmido, meteorologistas avaliam que a chuva não será suficiente para reverter os danos já sofridos por lavouras em países como Reino Unido, Alemanha, Romênia, Bulgária e Espanha.

Para o Brasil, o cenário representa uma oportunidade estratégica. Com a safra robusta e preços competitivos, o milho brasileiro tende a ganhar ainda mais espaço no mercado europeu, consolidando o país como um dos principais fornecedores globais do grão.